sexta-feira, agosto 06, 2010

MST.

"(...) Jorge Jardim Gonçalves: fundou o primeiro banco privado depois do PREC. Criou, inovou, triunfou, com mérito e talento. Mas, depois, deslumbrou-se: segundo o juiz que o acusou em processo-crime, falsificou documentos e contas, manipulou o mercado, abriu offshores para financiar clientes privilegiados que compravam acções do banco, financiados pelo próprio banco - e assim subiam as suas cotações, os resultados e os prémios dos administradores. Depois de exposto e afastado, saiu com uma reforma pornográfica e privilégios escandalosos, tais como jacto privado e seguranças a tempo inteiro. Entrevistado aqui, explicou que tudo era normal e boa gestão - até o crédito de 12 milhões que o banco de que era presidente concedeu ao seu filho e declarou perdido, por impossibilidade de cobrança. Disso, como de tudo o mais que ninguém imaginava, ele não sabia de nada.

João Rendeiro: fundou um banco de vão de Amoreiras e dedicou-se a gerir patrimónios particulares, comprando e vendendo na bolsa, quando a bolsa estava em alta. Quando as coisas se complicaram, o seu génio financeiro implodiu, porque afinal o que ele fazia qualquer banal especulador podia fazer. Fez publicar um livro louvando os seus dotes de visionário, que, por azar dos prazos da editora, saiu exactamente na véspera de ele ir pedir ao Banco de Portugal que lhe acudisse à falência da sua gestão de sucesso. Faliu, arruinou centenas ou milhares de clientes do banco e publicou um anúncio a explicar que não tinha nada a ver com o assunto, pois que era, à data, "apenas presidente do conselho de administração" do banco. E, enquanto os clientes desesperavam por uma intervenção do Estado que cobrisse os danos da gestão de sucesso do dr. Rendeiro, ele dava uma entrevista a contar que estava back in business e a estudar novas oportunidades de negócio.

António Mexia: por nomeação governamental, preside a uma empresa semipública que explora um bem absolutamente essencial, em regime de monopólio. Qualquer zé-careca conseguia lucros a gerir a EDP. Mas o dr. Mexia acha-se um caso único e notável: de três em três meses, quem lhe gere a imagem anuncia ao país que o dr. Mexia foi eleito o melhor CEO da Europa por uma qualquer organização de que nunca ninguém ouviu falar.

E, entrevistado pelo Expresso, o melhor CEO da Europa gastou três páginas a gabar-se de si próprio e a explicar que tem um particular talento para "energizar" tudo - pessoas, negócios, almas e oportunidades. E, interrogado sobre o mérito do seu prémio de gestão de 3,1 milhões de euros, reportado a 2009, responde que, não só é mais do que justo, como só por "inveja" é que pode ser contestado.

O que em comum falta a estes três homens é uma coisa caída em desuso: pudor. Neles, o país que hoje somos explica-se exuberantemente. "

1 Comentários:

Às 5:07 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Aliás "pudor" è o que mais falta actualmente, neste pobre País. Abraço

 

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