quarta-feira, junho 25, 2008

Moçambique e Emílio.

Trinta e três anos passam hoje desde que Moçambique ascendeu a país independente.

Uma boa forma de celebrar a pérola do índico, julgo eu, será através do recente romance de um dos seus mais dilectos filhos:

"O médico Sidónio Rosa encolhe-se para vencer a porta, com respeitos de quem estivesse penetrando num ventre. Está visitando a família de Bartolomeu Sozinho, o mecânico reformado de Vila Cacimba. À porta, a esposa, Dona Munda, não desperdiça palavra, nem despende sorriso. É o visitante quem arredonda o momento, inquirindo:

- Então, o nosso Bartolomeu está bom?
- Está bom para seguir deitado, de vela e missal…
A voz rouca parece distante, contrariada como se lhe custasse o assunto.
O médico acredita não ter entendido. Ele é português, recém – chegado a África. Refaz a questão:
- Perguntava eu, Dona Munda, sobre o seu marido…
- Está muito mal. O sal já está todo espalhado no sangue.
- Não é sal, são diabetes.
- Ele recusa. Diz que se ele é diabético, eu sou diabólica.
- Continuam brigando?
- Felizmente, sim. Já não temos outra coisa para fazer. Sabe o que
penso, Doutor? A zanga é a nossa jura de amor."


Mia Couto in "Venenos de Deus Remédios do Diabo".

P.S.: Retirado do blogue http://fiatenavirgem.blogspot.com/

1 Comentários:

Às 6:03 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Apesar de coisas boas e más...Parabéns a Moçambique..E quanto a Mia Couto..mais uma obra das mt boas que tem feito..Abraço

 

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