Amor que mata.

Numa altura em que é costume comparar lendas do futebol com promessas, é inevitável falar de José Manuel Soares Louro.

Pepe, como era conhecido, foi o primeiro símbolo do Belenenses. Nasceu há 100 anos, morreu há cerca de 77. Como imagem de marca, usava sempre uma boina espanhola e foi, ao que se conta, o melhor jogador da sua geração.

Viveu numa época em que a vida de um futebolista era orientada pela carolice. Pepe, conta quem sabe, era generoso e trabalhador. A par do futebol (amador), ganhava a vida como torneiro de metais.

Morreu precocemente e o seu desaparecimento enlutou o país. Aliás, a sua morte esteve durante muito tempo envolta em mistério e as explicações para o sucedido (mais ou menos fundamentadas) foram mais que muitas. Porém, a verdadeira causa para a sua trágica morte é um exemplo de como o destino sabe ser cruel e zombeteiro.

Pepe era o menino bonito da família. A sua mãe venerava-o. Certo dia, a mãe preparou-lhe a merenda para levar para o trabalho: um caldo com chouriço. Como privilegiado que era, a progenitora deu-lhe o chouriço e reservou o caldo para o resto da família. Pepe faleceu esse mesmo dia...

Conta-se que sua mãe, inadvertidamente, usou soda caústica no lugar de sal. O veneno concentrou-se na carne e, por isso, só Pepe viria a sofrer tão trágico destino.

Ao que parece, a polícia rapidamente percebeu o que teria acontecido. Não obstante, ocultou-o da opinião pública. Por isso, as versões alternativas propagaram-se.

A mãe de Pepe nunca viria a saber a vedadeira causa da morte do seu filho.

Sobre ele e sobre o seu Belenenses, Homero Serpa escreveu, há mais de 20 anos: “Pepe simboliza o velho Belenenses erguido por gente da praia, por homens modestos, que viviam no bairro operário e levaram para o clube a têmpera de quem sabe quanto custa a vida e quanto esforço é preciso para a enfrentar e vencer”.




P.S.: "Posta" baseada num artigo do jornal “A Bola”.