quinta-feira, janeiro 31, 2008

Carlos Cardoso.

Aproximam-se datas plenas de significado para duas personalidades que, à sua maneira, influenciaram os países que sempre defenderam intransigentemente (em função das respectivas circunstâncias). Hoje, falo-vos de Carlos Cardoso.

Carlos Cardoso, à semelhança de outras personalidades emblemáticas e que têm um blogue cujo nome começa por “M” e termina em “quices” e tem pelo meio as letras “aca(u)”, nasceu na Beira, em Moçambique. Nasceu em 1951.

Filho de pais portugueses, à semelhança de muitos outros “brancos” moçambicanos, defendia a independência da sua terra natal. Porém, defendia uma independência multi-racial, coisa que a história e meia-dúzia de iluminados se encarregariam de impedir.

Estudou na “Wits”, em Johannesburgo, onde desde logo se insurgiu contra o regime do “apartheid”. Tornou-se, inclusivé, um dos principais líderes estudantis anti-regime, o que lhe granjeou pouca simpatia entre os detentores do poder branco na África do Sul. Viria a ser considerado “personna non grata” e seria expulso do país, onde apenas voltaria após a queda do regime instítuido, em 1994.

Em Moçambique, após a conquista da independência, recusou acompanhar a família que retornou a Portugal. Decidiu ajudar Moçambique na sua aventura de afirmação. Foi o principal mentor do desenvolvimento do jornalismo independente. Samora Machel, cedo percebeu o valor do jovem Cardoso e sempre nutriu por ele um enorme respeito, apesar de considerar que por vezes “falava de mais”.

Apesar de defender políticas de cariz marxista, nunca se filiou na Frelimo e, depois da morte de Samora, desiludiu-se com o caminho trilhado pelos corruptos políticos do país.

Foi director, colunista e fundador de grande parte da comunicação escrita em Moçambique. Sempre independente e de língua afiada, insurgiu-se contra os grandes barões do poder.

Indomável, passou os últimos anos da sua vida a investigar os contornos de uma gigantesca fraude de 14 milhões de dólares Americanos, abusivamente desaparecidos dos cofres do Banco Comercial de Moçambique. Incomodou demasiada gentalha e, em 22 de Novembro de 2000, viria a falecer, ignobilmente metralhado em plena rua.

A pressão pública levou a que as investigações avançassem e, em 30 de Janeiro de 2003, Aníbal dos Santos viria a ser sentenciado a 30 anos de prisão, considerado culpado pela acção material que levou à morte de Cardoso. Ficou no ar um sabor amargo, porquanto sempre se soube que os principais mandantes do crime não seriam punidos. Falou-se, na altura, de Nympine Chissano (filho do então presidente da república, Joaquim Chissano), entretanto já falecido, mas nada de concreto se fez para o sentar no banco dos réus.

Carlos Cardoso, viveu fiel aos seus ideais de sempre. Honrado, lutou contra as iniquidades do seu tempo, tudo em nome da sua maior paixão: a Pérola do Índico.

Desconhecido de muitos, o seu trabalho é um exemplo do jornalismo de investigação que se faz foras dos grandes centros ocidentais.

3 Comentários:

Às 6:50 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Tinha conhecimento da corrupção existente e de "grandes nomes " ligados á elite Moçambicana, daí o triste fim de teve..Abraço

 
Às 10:42 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

À noite quando me deito não preciso rezar, já sou um herói (poema do mesmo)

 
Às 6:52 da tarde , Blogger VICI disse...

Desconhecia o poema. Obrigado pelo contributo!

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial