quarta-feira, maio 14, 2008

A bola.

Fala-se excessivamente mal do futebol. É certo que não tem a importância que muitos lhe dão, mas não tem menos do que qualquer outra manifestação desportiva ou cultural. Eu gosto da bola!

Acontece, porém, que se o futebol de per si não tem nada de mal, a verdade é que ele enferma dos vícios próprios da sociedade de que brota. E a nossa tem muitos.

O provincianismo bacoco e o culto da saloiice envenenam o futebol de tal forma, que levam a que, no seio de um desporto que deveria ser puro na sua essência, haja espaço para figuras que em qualquer outra área da nossa vida social não passariam de figuras espezinhadas, desprezadas ou presas! Só o futebol permite a estas luminárias uma atenção que de outra forma não teriam e que de todo não merecem.

Um povo que pactue com tramóias não é, de facto, um povo que deva muito à virtude. De manigância em manigância, passando por pequenas falcatruas, labora na desorganização e subvaloriza a lisura de comportamentos. E, o que é mais grave, ainda arranja tempo para encontrar na vitimização a desculpa para todos os males e faltas...

No seguimento do que vem dito, coloco aqui um texto da autoria de João Miguel Tavares, onde o jornalista, magistralmente, ridiculariza aquilo que não pode deixar de ser ridicularizado: os dirigentes da bola e os cegos seguidores desses abrutalhados...

O cronista é, as mais das vezes, um grande chato! Irrita a forma como se atira às gargantas daqueles que pretende atacar. Mas tem piada, o gajo. Vale a pena ler.

"Os clubes têm-se profissionalizado, a Liga está a fazer um esforço de transparência - mas para o futebol português a civilização ainda é um lugar distante. E por isso, toda a gente acaba por atribuir uma espécie de "desconto moral" a quem se move no mundo da bola, aceitando-se um bocadinho menos de honestidade e um bocadinho mais de baixaria. Só assim se explica que Jorge Nuno Pinto da Costa tenha sido considerado culpado de actos de corrupção pela Comissão Disciplinar da Liga de Clubes mas ninguém se tenha atrevido a questionar a sua continuidade à frente da SAD do FC Porto. Sabe-se que durante dois anos não se vai poder sentar no banco da equipa nem assinar contratos, mas propor a demissão de sua santidade para preservar a imagem do Porto seria sacrilégio digno de lapidação na praça pública.

O DN ouviu na quinta-feira Guilherme Aguiar sobre o papel que Pinto da Costa pode vir a desempenhar na SAD, e o ex-dirigente do FC Porto foi claríssimo: "Esta é uma suspensão de actividade igual às que se destinam aos jogadores quando são suspensos por um ou dois jogos. Não podem jogar, mas podem treinar." E quanto aos 50 mil euros que ele recebe mensalmente? É para pagar: "Os jogadores também continuam a receber." Ora aqui está uma bela comparação. Para Guilherme Aguiar, corromper um árbitro é assim como enfiar uma canelada num adversário, ir para a rua, e ficar uns jogos de fora. Um acidente de percurso, portanto. Uma entrada violenta, no máximo. Coisas do futebol.

Suponho que a maior parte dos sócios do Porto considere uma de duas coisas. 1) Que tudo isto não passa de uma cabala contra o líder dos dragões patrocinada pelo Benfica. 2) Que as actividades ilícitas do seu presidente são apenas mais uma manifestação de inabalável portismo. Afinal, Pinto da Costa e o FC Porto confundem- -se numa história de inegável sucesso desportivo. Mas a complacência com a corrupção é um espinho que infecta todo o futebol português. A verdade é que ninguém realmente acredita que a viciação de resultados tenha começado na época de 2003/2004. Aliás, pagar para ajudar o Porto em 2004 - para quem não se recorda, a época áurea de José Mourinho, que acabou com a conquista da Taça dos Campeões - é tão absurdo quanto Francis Obikwelu subornar um coxo para lhe conseguir ganhar numa corrida de 100 metros. Simplesmente, quando é longa e vasta a tradição de trafulhice, os maus hábitos custam a morrer. E nesse singular ecossistema chamado f utebol, ainda há quem ache que corromper é apenas uma forma - um pouco atrevida, vá lá - de manifestar o amor a um clube. Em vez de se enrolar um cachecol ao pescoço de um adepto, enrola-se uma prostituta ao pescoço de um árbitro. Faz alguma diferença? Se Pinto da Costa se mantiver à frente do FC Porto é porque, lá no fundo, no fundo, não faz."

4 Comentários:

Às 6:36 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Sem dúvida que o cronista fez um fiel retrato do futebol portugûes..e (deste triste caso, que é tardio e pouco dignificante..Abraço

 
Às 8:52 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

A aplicação destes castigos? Ao FCP é mesmo o que se chama tapar o sol com a peneira"..

 
Às 9:17 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Em vez de "apito final" devia era ser "apito inicial"..C.S.

 
Às 10:57 da manhã , Blogger VICI disse...

E a teoria da vitimização continua. Por essa internet fora, dezenas de blogs ligados ao FCP, continuam na da cabala orientada pelo SLB. Raio de obsessão! Mas, pior, começo a achar que esta gente merece mesmo andar a ser enganada e o futebol de merda que tem...

E, entretanto, os deputados mostram que ainda são mais broncos que a arraia-miúda e prestam vassalagem ao papa corrupto...

Haja paciência...

 

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