FF, no DN.
"Desta vez, os kamikazes não são os que vêm pelos ares. Estes esvaziam a água sobre os reactores e regressam ilesos nos seus helicópteros. Desta vez, os que se sacrificam, sabendo que se sacrificam, estão no solo, e lá continuam com a única compensação de um dia terem um filme: "Os Últimos de Fucoxima." Mas para os seus compatriotas eles já conseguiram um certo controlo na escalada de perigo da central nuclear. As leituras de radiações diminuem, já se acredita que se está na fase de enterrar o pesadelo - a prova veio ontem em todos os jornais: as manchetes abandonaram o Japão, partiram para a Líbia. Fucoxima, grau 5, não chegará ao máximo, grau 7, de Chernobil. Graças aos 50. Tão anónimos que nem se sabe se serão esse número, talvez sejam 200 a trabalhar por turnos. A trabalhar tão depressa que nem deu tempo para o mundo lhes organizar o espectáculo: dar nome e cara a cada um. Os 33 mineiros do Chile tiveram mais e, na escala dos heróis, fizeram menos. Os chilenos foram admirados pela sua coragem mas, afinal, lutavam por eles. Os 50 (ou lá quantos são) de Fucoxima, não; por eles o que fazem são doenças terríveis e certas. E nem têm aquele lenitivo que faz os heróis saltar as trincheiras, ou para comparação local e colorida, os kamikazes atirar os seus aviões contra os alvos - a morte breve e gloriosa. Os de Fucoxima são heróis pacientes, que fazem porque tem mesmo de ser feito."
4 Comentários:
É impressionante a coragem destes homens.
Sejam 50, ou 500, este acto altruísta merece já uma forte candidatura ao Nobel da Paz.
Excelente crónica, cheia de sensibilidade, que nos lembra o melhor que a humanidade pode ter. Abraço
Heróis anónimos que correndo o risco da sua própria vida, e saúde, travam uma grande luta para salvar o Japão (e não só), a própria humanidade de uma tragédia terrivel. Excelente homenagem de FF nesta crónica.
será que estão mesmo por livre vontade... a aquele povo tem sofrido tanto e desde a 2ª guerra que sofrem,
agora não se fala mais deles (japão), porque a zona atingida vivia da agricultura... as industrias não foram atingidas...
kota
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