Ontem, estive no
Venetian a assistir ao "Jogo dos Campeões", que contou com a presença de Borg, McEnroe, Federer e Blake. E vim de lá numa bela caldeirada de ambivalências. Por um lado, sorumbático, preocupado e com a sensação que me foram à carteira. Por outro, extremamente agradado com os artistas convidados.
Prefiro valorizar o que de bom vi. Comecemos, por isso, pelo que foi positivo, isto é, pelos jogadores envolvidos.
Borg e McEnroe Assistir a um jogo entre Borg e McEnroe é como reviver o passado. E digo reviver na sua máxima e mais esplendorosa acepção. De facto, a técnica de jogo está ultrapassada e os senhores em causa estão bem entradotes, mas continuam dois dos maiores jogadores que já pisaram um
court de ténis! E, no deve e haver, este que vos escreve já pode dizer que os viu jogar. Não está nada mal.
Federer e Blake Federer é Federer. Ponto! À classe e técnica apurada, juntou ontem um não menos apurado sentido de humor e foi, indiscutivelmente, a grande figura do espectáculo. Blake surprendeu pela positiva. Sendo uma segunda escolha, após a impossibilidade de Nadal estar presente, pensei que viria apenas para receber as quinhentolas. Mas não. Extremamente simpático, proporcionou óptimos momentos de ténis. E foi agradável ver em campo os dois únicos tenistas, dos 10 primeiros do
ranking, que batem a esquerda a uma mão.
Passemos agora a atentar na organização do evento.
Apanha-bolas Dez jovens desgraçados que foram lançados às feras. As crianças só podem ter sido escolhidas por algum inepto (o que equivale a dizer, alguém que ainda não tenha sido despedido da concessionária norte-americana), a quem a mais básica noção de ténis será seguramente alheia. Os jovens não sabiam o que andavam a fazer: corriam quando não deviam, nunca tinham as bolas disponíveis, não sabiam onde colocar-se, não recolhiam as bolas. Por diversas vezes, teve de ser o árbitro principal (ou
chair umpire, para dar um toque internacional ao texto) a orientar os apanha-bolas. McEnroe chegou a brincar com um deles, tal era a notória incapacidade da miudagem. Ficou a sensação que a única vez que estes miúdos viram um jogo de ténis, isso aconteceu na
playstation. Foi muito mau.
Árbitros auxiliares Dez ilustres indivíduos espalhados a propósito pelo campo. Elegante e estaticamente postados naquela posição de quem vê se a mesa da sala está nivelada, ou seja, de cu para o ar, lá se mantiveram estáticos até ao fim. Raramente auxiliavam o árbitro principal e, quando o faziam, faziam-no mal. Também fica a ideia que só jogaram ténis na
playstation e uma única vez... e perderam.
Animador Ainda não sei muito bem como descrever o tipo que animava os momentos de pausa no jogo. De guitarra tonitruante em punho, lá avançava ele com umas versões muito próprias de músicas famosas. E, como se não bastasse, quando parava de balbuciar umas palavras mal amanhadas, fazia um ruído esganiçado com a voz, que julgo ser uma sofrível tentativa de imitar um trompete ou afim. Felizmente, o árbitro (visivelmente incomodado com o quadro de miséria à sua volta) lá gritava “time”, os jogadores voltavam ao campo e o trovador calava-se... até à próxima pausa no jogo.
Assistência Na mesma esteira, há que dizer que o evento deveria ter sido alvo de maior publicidade, pois o pavilhão estava longe de estar cheio. Pior, uns furos bem abaixo, fica o público presente. Em rigor, um velório não seria menos animado. Os jogadores bem tentaram puxar pela assistência, mas nada. Nem ovações, nem cânticos, nem coreografias, nada! Curioso como as únicas vezes que se riam em uníssono era quando os apanha-bolas faziam mais uma asneira. É verdadeiramente um sentido de humor diferente. O que uns têm como patético, outros vêem como divertido...
Em suma,
Dou de barato que se tratava de um evento leve e descomplexado. Não se exigia dos jogadores um grande profissionalismo, apenas uma atitude descontraída e divertida. Mas isso era dos jogadores, não da organização! Talvez seja da falta de fundos, mas o xô Adelson e seus prosélitos deviam passar a prestar mais atenção aos detalhes organizativos. É que o que se passou ontem foi menos que medíocre. Olha que assim não há mesmo quem te financie os mamarrachos, pá!...