já estava anunciado há algum tempo.
oito dias bastaram para assistir, sem qualquer tempo para adaptações, ao maior ataque, à maior perseguição de que há memória a um grupo de pessoas que tem um vício igual aos que, como eu, gostam de futebol (também é caro, também faz mal à saúde dos "agarrados", também prejudica aqueles que os rodeiam).
assisti ao fim da civilização europeia ocidental, tal como a conheci.
já me tinham falado de uma tal de dona asae e do que ela era capaz.
já tinha visto no televisor aquele corpo de polícia política europeia a agir como se não houvesse amanhã ou como se todos os agentes económicos fossem criminosos.
não o tinha sentido até estas férias.
primo
há uma freguesia de ponte de sor que se chama tramaga (muito perto de uma boa terra chamada "água todo o ano").
nesse pequeno "pueblo" havia um restaurante com fama de bons petiscos (inter alia achigãs), melhores tintos e boa disposição.
a minha terra natal dista pouco mais de uma trintena de km da referida freguesia e decidi ir lá almoçar.
parada a viatura, entramos no estabelecimento e só o bar estava aberto, visto que uma rusga da dona asae tinha fechado o restaurante.
mais à frente, a caminho da barragem de montargil, mais uns 3 ou 4 restaurantes com ar de abandonados, denunciavam a visita da dona pide, digo asae.
lá decidimos ir ao Afonso (não confundir com esse outro grande monumento à culinária, sito em Macau, que, seguramente, não passaria no teste da asae) a mora, que fica a uns bons 30 km da primeira opção. só não envio a conta da gasolina à asae, porque se come mesmo bem no Afonso!
secondo
durante o tempo que estive no lugar onde nasci, e ainda antes do Natal, não se falava noutra coisa: lei anti-tabagismo, ou, lei do fim da civilização europeia ocidental.
no "Tonho Paulos" ou simplesmente "Paulos", diminutivos para a cervejaria "O Bilhar", no "Chave d'Ouro" ou no "Texas" ou simplesmente "Pirata", diminutivos para o café "Portugal", as conversas passavam sempre pelo que seria daqueles espaços com a lei do fim da civilização europeia, como a conheci.
os receios de todos confirmaram-se. poucos dias depois da entrada em vigor daquela lei hitleriana, o movimento daquelas casas diminuiu substancialmente.
à porta, os criminosos do nosso tempo, os que pagam impostos, aqueles a quem assassinaram o prazer de fumar, lá tentavam cumprir a lei do apocalipse fumante.
um verdadeiro atentado.
verdadeiramente espectacular e com contornos de surrealismo Daliano, foi o facto de o chefe da pide, digo asae, ter sido apanhado a fumar em plena passagem de ano... a justificação dada é tão ranhosa como uma boa parte das leis recentes daquele país.
também engraçado foi aquele proprietário de um café da fuzeta que, qual bufo, chama a polícia e acaba multado por não ter os dísticos...
chegado finalmente a casa ontem à tarde, depois daquela odisseia "aeroportoniana" onde não se pode fumar até Hong Kong, pensei: como (ainda) é bom estar em Macau.
de repente, lembrei-me que se nos tiraram o prazer de não usar cinto de segurança pouco faltará para que nos tirem o prazer de fumarmos um (como diria Eça) pensativo cigarro. até lá, resta gozar esses momentos...
boas fumaças!
aproveito para desejar um excelente 2008 a todos os Benfiquistas, os fumadores, protestantes, islâmicos, apostólicos romanos, evangelistas, estudantes, divorciados, casados, solteiros, aos que nos visitam do uruguai, de moçambique, dos restantes países do mundo, aos que voltaram agora de férias, aos que vivem e trabalham em Macau, aos não fumadores, lésbicas, heteros, metros, homos e sportinguistas, portistas, sadinos, ao barack obama (tem nome de jogador da NBA reformado), ao john mccain (ou lá como ele se chama), ao huckabee, ao emplastro, ao katsouranis, ao luisão, ao francisco louça, ao agente que multou o senhor da fuzeta, aos que ainda estão a ler, enfim... a todos... menos àqueles que tiveram a ideia de escrever a directiva contra o tabagismo, aos que prepararam e aprovaram a lei anti-tabagismo, à asae e ao senhor que é dono do estabelecimento da fuzeta...